Há marujos que, por desfastio frequente,
Caçam albatrozes, grandes aves do mar
Seguindo, companheiros da rota indolente,
O navio sobre o abismo a navegar.
Canhestros e embaraçados, esses reis
Do alto azul, mal os põem nos sobrados,
Deixam as asas, qual lasso bote a remos,
Arrastar-se, brancas e imensas nos lados.
O viageiro aéreo, agora mole, tísico,
Ave antes tão bela, que ridícula e feia!
Há quem, com o cachimbo, lhe arranhe o bico,
Há quem lhe imite o voo enfermo que coxeia.
O poeta é igual ao príncipe que afronta
As nuvens e a tormenta, e se ri da caçada;
Exilado no solo entre a arruaça tonta,
As asas de gigante impedem-lhe a passada.
Charles Baudelaire in La Revue française, 1859; 2ª edição de Fleurs du Mal (1861). Outras versões aqui.
1 comment:
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