Saturday, December 26, 2020

O Albatroz


Há marujos que, por desfastio frequente,

Caçam albatrozes, grandes aves do mar

Seguindo, companheiros da rota indolente,

O navio sobre o abismo a navegar.

 

Canhestros e embaraçados, esses reis

Do alto azul, mal os põem nos sobrados,

Deixam as asas, qual lasso bote a remos,

Arrastar-se, brancas e imensas nos lados.

 

O viageiro aéreo, agora mole, tísico,

Ave antes tão bela, que ridícula e feia!

Há quem, com o cachimbo, lhe arranhe o bico,

Há quem lhe imite o voo enfermo que coxeia.

 

O poeta é igual ao príncipe que afronta

As nuvens e a tormenta, e se ri da caçada;

Exilado no solo entre a arruaça tonta,

As asas de gigante impedem-lhe a passada.

 

Charles Baudelaire in La Revue française, 1859; 2ª edição de Fleurs du Mal (1861). Outras versões aqui.

1 comment:

hmbf said...

https://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/search?q=albatroz

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