Forte como a morte, feroz, qual corpo à terra,
Envolto em raio e bruma, trovão, negro recorte,
Afim à cerce foice de morrer, tão certo nos espera,
Forte como a morte,
O amor, de sombrio cenho e coroa de desnorte,
Escravo do coração tirano, cuja dor aterra,
Arde sobre o mundo que ronca abaixo, como fera.
Não será, Amor, a pena, poder que em ti impera?
Não tem pena o poder? Não, diz ele, sem que lhe importe
Responder, e cego marcha como vento ou galera,
Forte como a morte.
Algernon Charles Swinburne, In A Century of Roundels, 1883. Neste livro reuniu Swinburne os poemas da nova forma roundel, que foi ele que inventou, a chalacear o rondó; acho que se lhe pode chamar redendol, ele próprio o definiu com um, assim:
Um redendol enrola como anel ou esfera em estrela,
Com arte, enlevo, ou truque, somente o som controla,
Sorrindo ao coração que ouve e deleitado vela,
Um redendol enrola.
Amor, riso ou pesar — temor, fulgor que nos assola,
A jóia musical de tudo um pouco se cinzela,
Um brinco-fantasia preso à ideia como mola,
Pausa, semibreve, pausa e volta a tarentela—
Tal ave cujo trilo torna e o íntimo consola,
Assim a manivela, rolado um pranto ou pérola,
Um redendol enrola.
A Century of Roundels foi dedicado a Christina Rossetti. Já Aperotos, por minha fé, não consigo deslindar o que seja... filólogos, swinburnistas, sugestões, dicas?
2 comments:
Fiz uma pesquisa e parece que vem de Esquilo. Ora vê aqui:
https://books.google.pt/books?id=U5xGZFdugBIC&pg=PA86&lpg=PA86&dq=aperotos+esquilo&source=bl&ots=9lRfzD_0br&sig=ACfU3U31syPfU0TyFXqH0JHu5JktkOPYww&hl=pt-PT&sa=X&ved=2ahUKEwjMvJbbtPXtAhUNi1wKHfirCfgQ6AEwCnoECA4QAQ#v=onepage&q=aperotos%20esquilo&f=false
Lindo :) paixão sem compreensão alada, paixão electra... etimologicamente é que ainda me intriga. Boa passagem!
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